O luto segundo os psicólogos, é uma reacção a uma impactante perda. Ele não está relacionado apenas à morte por isso perdas de oportunidades, terminar relacionamentos, mudar de emprego e outras situações podem levar ao luto.

Já passei por vários lutos e quero colocar um pouco de mim neste post, mas também do que tenho vindo a aprender ao longos dos anos sobre este tema. 

Posso estar certa ou errada, pode fazer sentido para ti ou não, mas sem dúvida que o meu objectivo é que saias daqui com uma nova energia no caso de estares a passar por uma perda ou caso estejas a ajudar alguém que esteja a passar por uma perda, saias mais confiante sobre como deves lidar com ela.

A minha experiência:
Só este mês tive a noticia de duas mortes e embora estas não me fossem assim tão próximas, já tive ao longo dos meus 28 aninhos muitas experiências de luto e não reagi a nenhuma de igual forma nem me marcaram da mesma maneira. Passo a dar alguns exemplos delas só para entenderem que já passei por quase todas as experiências de mortes. Desde as mais inesperadas, ás mais esperadas ou até àquelas que nos deixam com mais remorsos por não podermos ter estado "lá".

  • O meu pai morreu 8 dias depois de eu nascer
  • A senhora que me criou desde essa altura para que a minha mãe pudesse ir trabalhar
  • Um ex-namorado que era saudável e com 18 anos morreu enquanto dormia
  • A minha melhor amiga quando eu estava a trabalhar fora
  • Vários familiares com cancro incluindo uma criança de 9 anos
  • Entre outras...



O tabu que é a morte

Ao longo do tempo vamos ignorando que ela existe e que fará parte da vida de todos os seres humanos.

Ela é um grande mistério, nunca sabemos quando, como ou onde irá ser a nossa hora e a hora de quem mais amamos.

Só de ouvir falar dela algumas pessoas parece que fogem a sete pés, outras parecem aceitar que ela existe mas quando "toca na vida delas" o caso muda de figura na maioria das vezes.

A realidade é esta, a maioria de nós não sabe o que fazer com ela nem como reagir perante a morte de alguém. Ninguém nos ensinou, muitas vezes até nos privam de viver estes momentos de luto para "não sofrermos tanto", como se soubessem o que nos fará sofrer mais ou sofrer menos. Não fazem por mal, é para nos proteger. Mas como em qualquer situação de protecção, pode ter o efeito contrário.


As fases do luto
Nem todas as pessoas passam por estas fases até encontrarem novamente paz interior e caso passem por estas fases também não significa que tenha de ser por esta ordem.

Negação
Quando recebemos a noticia (influencia também a forma como somos informados dela, claro) parece que ficamos sem chão e ficamos sem saber como agir perante o momento e também em relação ao futuro. Esta fase é no fundo um mecanismo de defesa que nos leva a não acreditar ou a não querer acreditar no que aconteceu. Temos ainda a esperança de ver a pessoa que aparentemente partiu a estar ainda viva e que tudo não passe de um grande equivoco.

Raiva/Culpa
São sentimentos muito comuns. É horrível sentirmo-nos assim, sentimos muita dor e quanto mais a pessoa nos era próxima, mais intensos são estes sentimentos. Começamos a pensar em culpados e em tudo o que poderíamos ter dito ou até feito para impedir esta morte. Não queremos simplesmente aceitar esta impotência que temos perante a morte.

Negociação
Queremos uma solução para alterar o que aconteceu. Queremos a pessoa de volta e que a vida volte a ser o que era antes. Não sabemos como será possível, mas simplesmente queremos que isso aconteça (e agora mesmo de preferência). Pensamos novamente que poderíamos ter agido de outra forma, sentimo-nos culpados e capazes de qualquer coisa para não sentir a dor da perda. É parecido com a fase da negação.

Depressão
Os sentimentos de vazio, tristeza e dor surgem com maior intensidade. É uma fase que parece durar para sempre porque sentimos que já não há mesmo mais nada a fazer. As sensações de cansaço, desinteresse e solidão fazem parte desta fase, bem como mudanças súbitas de emoções como crises de choro, por exemplo. Quem se deprime sai da condição de controlador do destino e passa a reconhecer as limitações humanas. Apesar de preocupante, é uma fase essencial para que a pessoa possa fazer uma análise mais franca sobre o ocorrido. Mas se ao fim de cerca de 6 meses os sintomas continuarem iguais ou a piorar, é fundamental que haja acompanhamento profissional.

Aceitação
Muitas vezes, esta fase é confundida com a ideia de que estamos bem e que aceitámos o que aconteceu muito facilmente. Aceitar não é deixar de sentir dor ou esquecer a pessoa, é sim reconhecer esta nova realidade e aprender a viver com ela. Mas esta fase também ás vezes nos faz sentir que ao continuarmos com a nossa vida, que estamos a trair a pessoa, por exemplo. No entanto, claro que não é bem assim, ninguém substitui ninguém e a vida ficará para sempre diferente sem a presença de quem faleceu. Apenas começamos a ter consciência do que aconteceu e a ser capazes de ver e falar sobre esta morte, destacando os momentos mais positivos que vivemos com a pessoa.



As minhas palavras para quem perdeu alguém
A morte traz sempre com ela um recomeço onde é preciso aprender sem a ajuda da pessoa que acabamos de perder.

  • Não te forces a ser forte, não te preocupes com o que os outros vão pensar, não aches que há reacções certas ou erradas, mostra a tua fraqueza se é realmente assim que te sentes. 
  • Se te apetecer chorar, chora. Seja com a tua família e amigos ou em público. Não penses que por estares a chorar estás a adiar o processo de seguires em frente com a tua vida. 
  • Se não te apetecer chorar, não chores. Ignora a crença de que todos temos que chorar quando perdemos alguém porque caso contrário é porque não estamos verdadeiramente tristes. 
  • Se te disserem que existe um tempo certo para ultrapassares este luto, estão a mentir-te. Cada pessoa tem o seu tempo para lidar com a situação.
  • A dor que sentes e o sentimento de vazio não vai desaparecer na tua vida, muito menos de um dia para o outro. Por isso não deves sentar-te e esperar pelo dia em que a tua dor vai desaparecer como se fosse magia. Mas sim ser paciente e aos poucos vais ver que vais compreender que és capaz de viver com a tua dor e seguires em frente.
  • Continua a dizer a ti mesmo(a) que tudo ficará melhor, ainda que isso soe a algo impossível. Apenas o que é importante é encontrares a melhor forma de encarares essa perda na tua vida.
  • Se quiseres estar sozinho/a está...não te forces a ser mais social ou o que seja, para que os outros se deixem de preocupar ou porque os outros acham que é o correcto a fazer. Pára, olha para o teu interior e faz o que tens vontade, o que achas que está certo. E se precisares de ajuda profissional, não tenhas medo ou vergonha por isso, faz isso por ti e por honra a quem partiu e quereria te ver bem. 
  • Partilha o que sentes com quem te é mais próximo, revive boas memórias que tinhas com a pessoa pois o diálogo faz com que o assunto se torne mais natural e que passemos a encarar com mais força a situação. 
  • Espera até te sentires mais calmo/a e mais racional antes de tomares qualquer decisão importante.
  • Aos poucos, vai tentando ter práticas mais saudáveis, faz exercício, alimenta-te bem, dorme mais, evita maus vícios, vai passear, escreve num diário, começa um novo hobby, cria novas rotinas, adopta um animal, entre outras ideias. No fundo, o ideal é que vás conseguindo dedicar-te mais a ti e a cuidares da tua mente e corpo. 
  • A única solução é enfrentar esta perda e aos poucos construir uma nova história, sem culpa ou remorsos. É uma etapa que precisamos compreender e vivenciar para continuarmos depois a viver de forma equilibrada e saudável.


As minhas palavras para os que estão a ajudar quem perdeu alguém
  • Sei que é complicado saber o que dizer nestas situações e que temos sempre boas intenções quando dizemos seja o que for a quem está a sofrer e que pretendemos que fique melhor.
  • Quando acabamos de perder uma pessoa, já sabemos que a morte faz parte da vida mas não queremos saber disso para nada agora ok?
  • Não é necessário que digas coisas como: que há pessoas/casos piores, ou que no próprio dia da morte digas que essa pessoa tem de ver o lado positivo ou que tem de seguir em frente, porque simplesmente não o vão conseguir ver nem têm que o fazer já.
  • Também não peças para parar de chorar e de sofrer, fica simplesmente só ali caladinho/a. É importante perceber que a morte não traz apenas a perda de uma pessoa querida, mas sim a perda de todo o contexto em que ela vivia.
  • Podes dar abraços, disponibilizar-te para ajudar no que for preciso a nível de burocracias ou até mesmo em tarefas de casa.
  • Vai mantendo contacto com a pessoa diariamente e aos poucos, conforme sentires que ela está, ires sugerindo algumas actividades para fazerem juntos e assim a pessoa conseguir desanuviar a cabeça.
  • No entanto, se ela preferir estar sozinha, deixa-a. Algumas pessoas preferem estar mais solitárias neste momento para que possam conseguir conectarem-se melhor ao que estão a sentir e ao que precisam de fazer neste novo recomeço.
  • Ouve a pessoa, se ela quiser falar sobre a pessoa que perdeu não precisas de saber o que dizer nessa altura, ouve de forma activa simplesmente.
  • Não devemos alimentar um disfarce do luto - da perda. Neste momento delicado isto não pode acontecer porque o fim já está instalado, ele dói e por isso mesmo devemos entender que o luto da pessoa é necessário neste momento por mais que nos deixe preocupados.



Ideias para fazer após a perda de alguém que amávamos
  • Escreve uma carta para a pessoa que morreu, diz tudo o que gostarias de ter dito, lembra-te das características da pessoa (principalmente das mais positivas). Agarra-te a elas sempre que te sentires pior. Agradece pela oportunidade de a teres tido na tua vida, pelo tempo que passaram juntos e despede-te dela.
  • Os pertences de quem morreu faz-nos de certa forma ligar a eles e cada um de nós tem o seu tempo para fazermos o desapego delas. Guarda uma espécie de amuleto dessa pessoa mas não deixes um quarto inteiro cheio de coisas que já não irás usar pois acabará por se tornar em algo nada saudável. É importante que haja uma despedida também dos seus objectos.
  • Transforma a dor que tens em boas acções, por exemplo a participar em campanhas de consciencialização. A ideia é fazer da dor uma possibilidade de aprendizagem e ajudar o próximo e partilhar os seus conhecimentos parece-me algo bastante positivo para minimizar o sofrimento que sentes.


Mas não te esqueças que cada um de nós vive o luto de forma diferente e não existem maneiras melhores ou piores, cada um de nós tem o seu tempo para recuperar.


 A vida pode e deve continuar a ser vivida, quem partiu gostaria certamente de ter tido essa oportunidade - honra a ida dele/a!

Se tens mais experiências e ideias de como lidar com a morte, partilha nos comentários. 

Juntos conseguiremos ajudar certamente mais pessoas neste momento tão complicado.